Esta é a grande pergunta neste momento de combate à pandemia do coronavírus: o isolamento social é eficaz contra a disseminação da COVID-19 ou não?
A maioria das notícias sobre o tema diz que sim, que o isolamento social é eficaz. No entanto, a recente matéria divulgada pelo jornal Gazeta do Povo acendeu uma luz de alerta em minha mente.
Vejam:
"A maioria das novas hospitalizações por Covid-19 no estado americano de Nova York nos últimos três dias é de pessoas que estavam em casa e saindo pouco, segundo dados do governo do estado. O governador democrata Andrew Cuomo considerou a situação 'chocante'.
Cuomo mostrou os números em seu pronunciamento diário sobre o combate ao novo coronavírus na quarta-feira (6). Segundo o governador, os dados preliminares são de 113 hospitais de Nova York e envolvem mais de 1.200 pacientes, noticiou a imprensa americana.
De acordo com o gráfico divulgado, 66% desses novos pacientes que foram internados no estado nos três dias anteriores são pessoas que disseram que estavam em casa na maior parte do tempo. Em seguida, vêm os pacientes de casas de repouso, que representam 18% das novas admissões nos hospitais.
'Se você notar, 18% das pessoas vieram de casas de repouso, menos de 1% veio de prisões, 2% vieram da população sem-teto, 2% de outras instalações, mas 66% das pessoas estavam em casa, o que é chocante para nós', disse Cuomo, segundo a CNBC.
O campo 'outros' representa 8% das hospitalizações nos três dias anteriores.
'Essa é uma surpresa: majoritariamente, essas pessoas estavam em casa. Pensamos que elas estivessem talvez usando o transporte público, e tomamos precauções especiais no transporte público, mas na verdade não, essas pessoas estavam em casa', continuou"(1).
O cerne da questão é que, ao que parece, o isolamento social não previne a transmissão do vírus, seja porque as pessoas têm contato com entregadores de comida ou amigos, seja porque as pessoas não ficaram todo o tempo da quarentena em suas residências, seja porque o vírus já estava circulando na população antes que as medidas de contenção fossem tomadas.
Há especialistas que afirmam categoricamente que o isolamento social é um equívoco, pois ao invés de aumentar a imunidade da população acaba por reduzi-la.
A Suécia, por exemplo, tem aplicado uma outra forma de combate à pandemia com medidas bem menos restritivas e - novamente, ao que parece - tem sido bem sucedida (2).
Evidentemente, não se pode desprezar as peculiaridades de cada país, porém, no mínimo, deve-se dar atenção às estratégias bem sucedidas. Por isso, chama a minha atenção essa abordagem unilateral adotada por alguns governadores e prefeitos sob a premissa de que estão submissos à Ciência, mas, a qual ramo da Ciência se referem? Espero, sinceramente, que não seja à Ciência Política apenas.
Em suma, como profissional do Direito, não tenho como afirmar qual atitude é mais apropriada, se devemos continuar a utilizar o isolamento social ou se devemos tomar medidas menos restritivas.
O que sei, com certeza, é que não devemos deixar de perscrutar o tema, pois, "no campo científico, a
curiosidade e a indagação, e o escrutínio racional da realidade são os móveis
legítimos do ofício do pesquisador"(3).
Nill.
3. INDAGAÇÃO E CONVICÇÃO: FRONTEIRAS ENTRE A CIÊNCIA E A IDEOLOGIA, autoria de ZAIA BRANDÃO, Professora do Departamento de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, https://www.scielo.br/pdf/cp/v40n141/v40n141a09.pdf, acessado em 08.05.2020.