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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Espiritualidade em meio à carnalidade

Em meio a tanta carnalidade dos últimos dias, foi um refrigério para minha alma ler o livro “Teologia dos Reformadores”, de Timothy George, publicado pela Editora Vida Nova.

Durante a leitura, eu me deparei com um relato sobre Janneken Munstdorp. Janneken era uma cristã anabatista[1], cuja filha - também chamada Janneken - havia nascido na cadeia enquanto sua mãe esperava a execução. Detalhe, ela seria executada simplesmente por ser fiel à sua fé, nada mais.

Janneken então escreve uma carta à sua filha, endereçada como um testamento “a Janneken, minha amada filha, enquanto eu estava (imerecidamente) encarcerada por causa do Senhor, na cadeia, na Antuérpia, em 1573 d.C.”

Creio que vale a pena transcrever essa carta rogando ao Espírito Santo para que trabalhe em seu coração a partir dessas palavras escritas há quase 500 anos atrás, mas que ainda exalam a fragrância do conhecimento de Cristo (2 Coríntios 2:14):

“Minha querida filhinha, eu a confio ao Deus todo-poderoso, grande e temível, o único sábio, para que Ele a guarde e a faça crescer em seu temor, ou que a leve para casa em sua juventude; esse é o pedido de meu coração para o Senhor - você, que ainda é tão pequena, e que eu devo deixar aqui, neste mundo cruel, mau, perverso.

Visto, então, que o Senhor assim ordenou e predestinou, que eu deva deixá-la aqui, e você fique aqui desprovida de pai e mãe, eu a entregarei ao Senhor; faça Ele de você conforme sua santa vontade. Ele a governará e será um Pai para você, de modo que nunca lhe falte nada aqui, se temer a Deus; pois Ele será o Pai dos órfãos e o Protetor das viúvas.

Portanto, meu cordeirinho, eu, que estou aprisionada e confinada aqui por amor ao Senhor, não posso ajudá-la de nenhuma outra forma; tive de deixar seu pai por causa do Senhor, e só pude tê-lo durante algum tempo. Deram-nos permissão de viver juntos apenas meio ano, e depois disso fomos presos, pois buscávamos a salvação de nossas almas. Eles o tiraram de mim, sem saber de minha condição, e eu tive de permanecer encarcerada, e vê-lo ir antes de mim; e foi um grande pesar para ele que eu tivesse de permanecer aqui, na prisão. E agora que suportei o tempo, carreguei-a sob meu coração com imensa tristeza durante nove meses e, com muitas dores, dei-a à luz aqui na cadeia, eles a tiraram de mim. Aqui estou, esperando a morte a cada manhã, e logo seguirei seu querido pai. E eu, sua querida mãe, escrevo-lhe, minha amada filha, algo como lembrança, para que assim você se recorde de seu querido pai e de sua querida mãe.

E agora, Janneken, meu doce cordeirinho, ainda tão pequena e jovem, deixo-lhe esta carta, junto com um anel de ouro que tinha comigo na prisão, e isso lhe deixo como despedida eterna e como testamento; que com isso você possa lembrar-se de mim, como também por esta carta. Leia-a, quando puder compreender, e guarde-a, enquanto viver, em memória de mim e de seu pai. E desse modo eu me despeço, minha querida Janneken Munstdorp, e beijo-a afetuosamente, meu doce cordeirinho, com um beijo eterno de paz. Siga a mim e a seu pai, e não tenha vergonha de nos confessar perante o mundo, pois nós não tivemos vergonha de confessar nossa fé ao mundo e a essa geração adúltera.

Que isso seja sua glória, que não morremos por nenhum ato perverso, e esforce-se por fazer o mesmo, embora eles devam tentar matá-la, também. E de forma alguma cesse de amar a Deus sobre todas as coisas, pois ninguém pode impedi-la de temer a Deus. Se seguir aquilo que é bom, buscar a paz e a seguir, você receberá a coroa da vida eterna; essa coroa, eu lhe desejo, e o Jesus Cristo crucificado, sangrando, despido, desprezado, rejeitado e assassinado, por seu noivo”.

Deus seja louvado!

“Se é somente para esta vida que temos esperança em Cristo, dentre todos os homens somos os mais dignos de compaixão” (1 Coríntios 15:19).


Em Cristo,

Pr. Nill.


[1] Grupo cristão do século XVI assim chamado porque os convertidos eram batizados em idade adulta, desconsiderando o batismo da Igreja Católica Apostólica Romana. Assim, rebatizavam todos os que já tivessem sido batizados quando criança, crendo que o verdadeiro batismo só tem valor quando as pessoas se convertem conscientemente a Cristo. Os anabatistas, ao lado dos espiritualistas e dos racionalistas evangélicos, faziam parte do movimento que ficou conhecido como “reforma radical”, um termo coletivo para esses grupos de inovadores religiosos que não permaneciam nem nas igrejas católicas romanas, nem nas principais igrejas protestantes da época.

5 comentários:

  1. Lindo testemunho! Verdadeiramente ela teve a coragem de viver a Palavra q nos diz: "Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho." Filipenses 1:21
    Glórias a Deus!

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  2. Pr. Nill. Estava procurando pela net saber se vc continuava firme aos pés do Senhor, pois vendo alguns vídeos seus no yuotube, me lembrei da minha infância quando eu não perdia o programa evangélico que vc apresentava. Fikei muitissímo feliz de saber que estás mais firme do que nunca!
    Que Jesus te conserve assim, santo homem de Deus.

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  3. Na minha família, sou a única que vive o evangelho de Jesus, ou tento, pelo menos. Busco uma vida diária com Deus. Não O quero só na hora da necessidade, mas O quero o tempo inteiro comigo. Logo que me converti, o primeiro testenunho de vida que escutei foi de um senhor que orava 30 anos por sua família. Ele morreu . Depois de sua morte, todos se entregaram a Jesus. Fiquei "doida" com esse testemunho e na mesma hora falei toda "soberba", mesmo sem intenção de ser, disse a Deus que não aceitava aquela situação para mim. Bem, são doze anos que oro pela minha família e no menor sinal de mudanças eu vibro. Existe uma resistência muito grande e sinto na pele a perseguição e um testemunho desses que o pastor relata me enche mais de fé e coragem. Agradeço a Deus por isso. Pelo conforto e pelo carinho. Paz e graça.

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  4. Pastor Nill;
    quero te dizer que DEUS foi muito bom comigo; quando te colocou no meu caminho; na minha infância eu me divertia contigo; na minha vida adulta; tenho alguem que me passa sempre relatos como esses; de amor e fé! obrigada por tudo!
    quero sempre aprender mais! fique com DEUS!

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